FISIOTERAPIA


Existem muitas dores que rondam atletas e esportistas em geral, sendo que algumas têm características que chegam a ser confundidas com outras patologias. Nestes casos, o diagnóstico correto é imprescindível para que o tratamento dê resultado. Uma dessas dores é a pubalgia, que incomoda alguns corredores e que precisa ser tratada para não atrapalhar os treinos e as competições. Como foi o caso de Vanderlei Cordeiro de Lima, que iria correr a Maratona de Turim (dia 13/4) em busca do índice para Pequim, e foi obrigado a parar por uns dias os treinamentos para tratar de uma inflamação no púbis. Em função do problema, ele adiou para a Maratona de Praga (dia 11 deste mês, data-limite para a marca) sua busca de um bom resultado.
Outras patologias que têm sintomas parecidos são: hérnia inguinal, doenças geniturinárias, osteítes púbicas (síndrome do músculo grácil e síndrome do músculo piriforme), prostatite, bursites na região do quadril ou artrite do quadril. Porém, mais de uma causa pode estar associada à dor no quadril. Abordaremos nesta matéria somente a dor na virilha relacionada à tensão da musculatura dessa região com ou sem alteração do osso do púbis e sem hérnia inguinal.
A dor na região do púbis ou na virilha é muito comum em atletas e pode ser aguda ou crônica. Acomete principalmente jogadores de futebol e tênis, mas também corredores de longa distância (maratonistas) quando em treinos de tiro, ou corredores de aventura. É mais freqüente em homens do que em mulheres devido à quantidade proporcional de praticantes de futebol e também às diferenças anatômicas e biomecânicas dessa região do corpo (a bacia da mulher se adapta melhor aos impactos dos esportes).
Mecanismos de lesão e causas. Os mecanismos de lesão podem incluir alterações rápidas de direção, movimentos repetidos de corrida associados a desequilíbrios musculares, traumas diretos, diferenças no comprimento dos membros inferiores, prática esportiva em pisos duros, uso de calçados inadequados e excesso de treino.


A causa mais comum da dor na virilha é a distensão ou tensão exagerada da musculatura que envolve esta região, abrangendo os músculos adutor longo, reto abdominal, iliopsoas, pectíneo e reto femoral. Pouca flexibilidade da musculatura da região do quadril e pélvis, assim como instabilidade de quadril e desequilíbrio muscular entre adutores e músculos do abdômen, também podem contribuir para o surgimento da pubalgia.


Quando a pubalgia tem sua causa na musculatura, o músculo e tendão mais acometido normalmente é o do músculo adutor (porção longa), podendo apresentar uma inflamação crônica ou até uma lesão das fibras (ruptura de uma parte do tendão ou músculo). Outro músculo comumente acometido é o reto abdominal na porção que se insere no osso púbis. A tensão nestes dois músculos desequilibra o quadril, pois o músculo reto abdominal traciona o osso do quadril para cima, enquanto o adutor puxa para baixo.


Sintomas. A dor é bem localizada na virilha e pode acometer apenas um lado ou os dois. Normalmente ocorre durante a corrida (ou outro esporte), mas se o atleta continuar correndo a dor pode aparecer durante outras atividades como sentar-se e levantar-se de uma cadeira, subir e descer escadas, agachar, mudanças de direção abrupta, aceleração e chute. Corredores normalmente apresentam dor localizada e forte desde o início da doença.


Se houver irradiação da dor, o atleta pode sentir incômodo na região de abdome inferior, adutores, região genital e lombar, caso haja associação com alterações da articulação sacroilíaca (junção do quadril e porção final da coluna).


Diagnóstico. Quanto mais demorado for o início do tratamento maior será o tempo de recuperação. Quando diagnosticado e tratado rapidamente o corredor tem a chance de não se afastar da corrida, tendo apenas o seu treino modificado até a recuperação total. O tempo de afastamento do esporte depende de cada caso.


O diagnóstico médico é de extrema importância. Além do exame físico, os exames de imagem auxiliarão o médico a fazer o diagnóstico correto. O raio X pode mostrar lesão do osso púbis, calcificação dos tendões acometidos, osteoartrite ou instabilidade pélvica. Já a tomografia computadorizada e a ressonância magnética podem evidenciar outras causas da dor na virilha, como a existência de hérnia inguinal ou lesões musculares e tendíneas.


Tratamento. O tratamento para dor na virilha decorrente da hérnia inguinal é, na maioria das vezes, cirúrgico. Já o tratamento para pubalgia decorrente das alterações musculares e ósseas é conservador. Esse é o principal motivo de escolhermos o segundo tipo para aqui abordarmos. Além do tratamento médico, a acupuntura e a fisioterapia auxiliarão a completa recuperação.


O objetivo do tratamento fisioterápico consiste em diminuir a dor e a inflamação, aumentar a resistência do tendão ou tendões acometidos, restabelecer o equilíbrio muscular, melhorar a estabilidade do quadril e da coluna. É recomendada a aplicação de bolsa de gelo por 20 minutos no local da dor, duas a três vezes por dia, desde o início do aparecimento da dor até o final do tratamento.


No início da patologia não se deve correr com dor. Muitas vezes, após a realização do tratamento correto, no retorno ao esporte pode acontecer um pouco de dor durante a corrida, mas essa dor pode ser descrita mais como um incômodo do que dor. A musculatura acometida precisa de um tempo de adaptação, o que justifica esse incômodo, bem diferente da dor durante a pubalgia.


A pubalgia é um grande desafio na medicina esportiva. Não é apenas um problema para ser diagnosticada, mas também de difícil tratamento. Se não tratada corretamente pode se tornar crônica e atrapalhar a vida esportiva dos atletas. É uma patologia que requer um acompanhamento multidisciplinar. Siga a orientação do seu médico e procure um profissional capacitado para acompanhar a sua reabilitação. O fisioterapeuta poderá utilizar técnicas de terapia manual e correções posturais como RPG (Reeducação Postural Global) para proporcionar uma recuperação segura e completa (sem recidivas). Dessa forma você não sentirá tantas saudades da corrida.

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